13.12.16

Ainda sobre zoológicos


Ainda sobre zoológicos

No momento em que escrevo este texto mais de mil e cem pessoas já subscreveram uma petição dirigida ao presidente da Câmara Municipal da Povoação, pedindo para que o mesmo repense o projeto de recuperação do chamado parque zoológico e procure uma alternativa que não implique a manutenção de animais em cativeiro.

O sucesso da petição, lançada por pessoas que acompanham a situação daquele espaço, situado no centro da Povoação, pelo menos desde 2009, deve-se ao facto de não só no estrangeiro, mas também entre nós ser cada vez maior o número de pessoas preocupadas com os direitos dos animais.

A preocupação crescente, a nível mundial, com a situação dos animais e com a deseducação dos humanos associada à criação de animais selvagens em cativeiro tem levado ao encerramento de muitos zoológicos ou à sua reconversão.

De acordo com um “dossier” da responsabilidade do Projeto ZOOXXI, entre os países que têm fechado mais parques e jardins zoológicos estão os Estados Unidos, a China, a Inglaterra, a Austrália e o Canadá.

Ainda segundo o mesmo Projeto, as principais causas para o encerramento de zoológicos são as crises económicas, as condições precárias e um inadequado manejo dos animais e a pressão pública para a sua melhoria ou eliminação, quando estão a causar danos aos animais ou mesmo a prejudicar a imagem das localidades onde estão instalados.

O conhecido escritor inglês Desmond Morris, responsável durante dez anos pelos mamíferos do Zoo de Londres, um dia afirmou: “Sei que os bons jardins zoológicos são importantes por muitas razões, mas aprendi o suficiente para me aperceber dos danos causados aos animais ao mantê-los cativos. E simplesmente não quis continuar”


De entre as razões importantes referidas por Desmond Morris, estarão a função educativa e o seu papel na conservação das espécies, as quais são contestadas por vários autores.

No que diz respeito à sua função educativa, o facto dos animais enjaulados em pequenos recintos apresentarem comportamentos anormais em nada contribui para o real conhecimento das diversas espécies.

Alguns pedagogos sustentam mesmo que o cinema, a televisão, as animações informáticas constituem um recurso muito mais útil do que os parques zoológicos.

A segunda ideia, a de que os jardins zoológicos contribuem para a preservação de algumas espécies com vista à sua reintrodução na natureza, é também posta em causa pelos autores que vimos citando. Com efeito, aqueles autores referem que são muito poucos os casos em que tal aconteceu e mencionam o facto de nos anos 90 das três mil espécies em cativeiro em zoológicos apenas 66 estavam em vias de extinção.

No ano 2000, a presidente da Liga Para a Protecção da Natureza, afirmou que “o que se verifica é que os parques zoológicos são meras instituições de atividades lúdicas e até de alguma exploração animal ligada a atividades financeiras, quase industrializadas.”

De então para cá pouco se modificou e no caso da Povoação, para além da manutenção dos animais em condições precárias, mesmo ilegais perante a legislação em vigor, o parque nunca teve nem tem condições para ter uma função pedagógica nem nenhum papel para a conservação de espécies e é insuficiente querer aumentar o tamanho das jaulas quando o que importa é mudar de paradigma.

Termino, apelando ao bom senso da Câmara Municipal da Povoação e citando um comentário, deixado na página web da petição referida no início, de Milou van Mulken, que visitou o local e não gostou: “Eu vi pessoas dando cigarros aos macacos !! E não havia pessoal responsável para evitar que tal fosse feito. Este não é lugar para macacos. Muito pequeno e eles parecem deprimidos.”


Teófilo Braga
(Correio dos Açores, 31103, 14 de dezembro de 2016, p.16)

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